sábado, 21 de maio de 2011

Aula de Matemática

Vamos ver quanto sobra para um mestrando sozinho (sem família para sustentar) gastar com diversão, saúde, curso de língua (que é obrigatório na vida acadêmica), comprar livros, cortar o cabelo, visitar a família (que normalmente mora longe), pagar o INSS (pós-graduando não tem direitos trabalhistas, então não tem aposentadoria se não pagar à parte!) e por aí vai. Suponhamos que nosso pós-graduando more em Campinas e economize até os últimos centavos que tem. Lembramos que esse pós-graduando tem algo em torno de 25 anos e precisa estudar muito, então não pode morar em uma casa com mais 15 pessoas para diminuir seus gastos!

1200,00 (bolsa de mestrado)
- 600,00 (pra dividir um apartamento e suas contas com mais três pessoas)
- 150,00 (transporte público - ida e volta da universidade)
- 100,00 (almoço e jantar diários no bandejão da Unicamp)
- 250,00 (supermercado: higiene pessoal e demais gastos com alimentação - café da manhã e refeições no final de semana)
________
100,00

Pois é, com os gastos mínimos para se manter, o nosso mestrando conseguiu economizar somente R$100,00! Esse valor não paga sequer o custo de um livro técnico. Agora imagine que esse pós-graduando fique doente: ele irá depender do SUS e, muitas vezes precisará comprar remédios que não são distribuídos de graça. Eu mesmo, que estou escrevendo esse post agora, preciso tomar um remédio cujo genérico mais barato já me custa mais do que esses R$100,00 por mês.

Traduzindo, para fazer pós no Brasil é preciso trabalhar o dia inteiro e ainda assim precisar contar com a ajuda dos pais (isso se esse pós-graduando tiver sorte e seus pais tenham condições de o ajudar!), mesmo depois de formado? Aí fica a pergunta: como a CAPES e o CNPq esperam que os melhores alunos das melhores faculdades brasileiras se submetam a essas condições?

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Reajuste das bolsas de pós, ou #BolsaJusta


O pós-graduando sabe bem das dificuldades de quem faz um mestrado ou um doutorado no país: trabalho em horários inusitados, falta de reconhecimento por parte de muitas pessoas (quem nunca ouviu os clássicos "você só faz pós? mas não trabalha?"), necessidade de escrever artigos a todo o custo, laboratórios muitas vezes sem condições para pesquisa e ausência de quaisquer coisas que se aproximem a direitos trabalhistas (como férias, décimo-terceiro) são só alguns dos exemplos. Mas as questões que mais assolam os alunos de pós-graduação são a falta de bolsa e os valores extremamente defasados destas.

Apesar de muitos não saberem disso, parte significativa (ousaria dizer que bem mais da metade) da pesquisa científica e tecnológica de nosso país ampara-se no trabalho de alunos de pós-graduação, através da execução de experimentos, revisões bibliográfica, projetos etc. No entanto, apesar da posição estratégica que esses alunos de mestrado e doutorado ocupam para o desenvolvimento do país, o valor das bolsas pagas pelo CNPq e pela CAPES é irrisório. O próprio Plano Nacional de Pós-Graduação 2005/2010 (disponível no site da CAPES) já alegava que as bolsas de pós deveriam ter reajuste real de 50% até o ano passado. O que se viu, no entanto, foi a perda real de 5% no valor das bolsas no período (segundo o IPCA, medido pelo IBGE).

Apesar de não almejar ser um salário, a bolsa não pode ter um valor exageradamente discrepante daquele que um profissional com formação similar àquela exigida pela pós receberia se exercesse outra função. Vejamos o caso das engenharias: o salário mínimo de um profissional contratado como engenheiro é de cerca de R$4600,00, enquanto a bolsa de alguém que opte por seguir um mestrado é de R$1200,00. Vale lembrar que as agências cobram dedicação exclusiva – quando permitem acúmulo com a bolsa, o emprego deve ser de poucas horas e relacionado á pesquisa. Não é de estranhar o fato de que já faltam candidatos à pós-graduação nessa área!

Para agravar tal situação, o último reajuste no valor das bolsas CAPES/CNPq foi realizado há três anos. Neste período, a inflação foi de cerca de 17%, o que significou uma perda de poder de compra de R$200,00 para mestrandos e R$300,00 para doutorandos. Por essas e outras, o Pró-Pós, junto da Associação Nacional de Pós-Graduação, está realizando uma campanha pelo reajuste do valor das bolsas de pós. Já estamos nos mobilizando nas redes sociais! Adicione ao seu avatar no Twitter e no Facebook o nosso twibbon, disponível em:
Utilize também a hashtag da campanha, #BolsaJusta, e divulgue a situação dos pós-graduandos pelo Brasil afora. Há também o abaixo-assinado virtual da ANPG. Assine-o também e divulgue:
Você pode obter mais informações sobre a campanha, saber das tentativas de negociação e ler mais sobre a vida dos alunos de pós pelo site da ANPG:
Em breve, estaremos divulgando mais ações, tanto no mundo real quanto no virtual! Fique ligado!